dezembro 23, 2016
dezembro 16, 2016
novembro 30, 2016
perpetuamente
"Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre.
Tudo quanto vive perpetuamente torna-se outra coisa, constantemente se nega, se furta à vida"
(Fernando Pessoa)
novembro 25, 2016
incoerências
"A realidade é que a vida consiste em incoerências e estas precisam de ser aceites como fazendo parte dela"
(Etty Hillesum)
novembro 22, 2016
outubro 28, 2016
outubro 24, 2016
outubro 10, 2016
setembro 30, 2016
setembro 22, 2016
levianos sentimentos
"Representar é aprender a viver além dos levianos sentimentos, na verdadeira dignidade"
(Guimarães Rosa)
setembro 09, 2016
agosto 31, 2016
dias assim
[despertares sem tempo.
cores, cheiros e ritmos diferentes.
outros sabores.
deixar que o espanto nos invada como se não tivéssemos idade.
e que se entranhe na pele o vento que sopra quente.
e rir de nada, no meio de nada, porque é quanto baste estar ali.
luas. marés.
e a alma que se enche de tudo e transborda no olhar sob um céu imenso de estrelas.
cumplicidades.
dias de sentir, apenas.]
outros sabores.
deixar que o espanto nos invada como se não tivéssemos idade.
e que se entranhe na pele o vento que sopra quente.
e rir de nada, no meio de nada, porque é quanto baste estar ali.
luas. marés.
e a alma que se enche de tudo e transborda no olhar sob um céu imenso de estrelas.
cumplicidades.
dias de sentir, apenas.]
agosto 28, 2016
agosto 02, 2016
julho 27, 2016
junho 29, 2016
possibilidade
"Fica estabelecida a possibilidade
De sonhar coisas impossíveis
E de caminhar livremente em
direcção aos sonhos"
(Michel de Montaigne)
maio 11, 2016
[paisagem]
"Vê-se melhor quando não se vai para ver nada, quando os olhos procuram tudo o que se possa achar. E encontram tudo"
(Vergílio Ferreira)
abril 30, 2016
data sem calendário
""talvez... numa data sem calendário nos [re]encontremos.
talvez no sentemos no degrau do amanhã e, com o silêncio, consigamos empurrar a porta demorada no abrir (...)"
abril 18, 2016
abril 07, 2016
convite
"um dia
convido-te para viajar.
oferecer-te-ei palavras
para construires o mapa.
no brilho dos teus olhos e no tremor de teus dedos,
lerei as estradas que traçarás.
um dia
convido-te para viajar
e os dois, de sonhos dados,
percorreremos versos
até chegarmos aos céus
onde os peitos segredam.
um dia
convidar-me-ás para viajar.
e eu terei a mala pronta,
cheia de horas adiadas
com cabelos já brancos,
agarrados ao fecho dos dias.
e o poema
escrever-se-á com os passos
que faremos
sem convite."
(© João Costa)
abril 04, 2016
março 29, 2016
ao largo dos dias
"Não deixes
que o frio
te chegue aos ossos
Agasalha-te
e passa ao largo dos dias
Caso não seja
possível:
investe em melancolia
Mas agasalha-te
Não deixes
que o mundo
te dite o silêncio
Cala-o tu"
março 22, 2016
... mais do que falar
"Neste espaço branco de madrugada e lua cheia, preciso falar, e mais do que falar, preciso dizer. Mas as palavras não dizem tudo, não dizem nada."
(Caio Fernando Abreu)
março 11, 2016
fevereiro 24, 2016
Barnes
Barnes adorava sentar-se na sua cadeira manca enquanto comia pequenas migalhas de pão e bebia leite fresco. Não por ser doce, pois não lhes juntava qualquer tipo de açúcar, mas porque, no fundo, sabia que ele próprio era uma migalha ignóbil desejosa de atenção.
Identificava-se com isso. Uma pequenez avassaladora impossível de contornar. Demorou, pois, algum tempo até conseguir perceber que a vida na cidade, aquela pela qual tanto ambicionara, era de facto, para o bem e para o mal, mesmo assim e daquela forma dura e desconjuntada, como a velha cadeira que herdara dos avós. De que lhe adiantava estar sempre no meio de muitos, acompanhado de frenéticas algazarras e de garrafas e copos de champanhe transbordantes, se ao seu lado subsistia o vácuo da imagem de quem realmente interessava e lhe fazia bem?Por ter medo dos automóveis nunca aprendeu a conduzir. Deslocava-se sempre a pé e frequentemente recorria a táxis e a boleias de desconhecidos. E a boleia de desconhecidos numa cidade não é algo tão frequente quanto isso. Daí que as pessoas, críticas, o censurassem ao vê-lo chegar-se à beira do passeio das ruas chiques, de dedo erguido ao céu, atrevido e a fazer-se de convidado.Era muito frequente passar a hora de almoço nos jardins, e como comia pouco, ficava com mais tempo para, simplesmente, focar a sua atenção nos pormenores das pessoas que passavam à sua frente, cruzando-se ao acaso. Tomou consciência daquilo que queria depois de ver o voo rasante de um bando de papagaios verdes vindos do nada. A cidade tem pássaros mas não tem papagaios, muito menos papagaios verdes, de asas imponentes. E se os sinais querem dizer alguma coisa, então, é de aproveitá-los.
Durante muito tempo, Barnes havia sido o homem mais alienado à face da terra. Assolavam-lhe, diariamente, vindos de vários quadrantes, explosões de vida, dos encontros alegres e dos momentos felizes que, mesmo assim, toldado por egoísmo aguerrido e traiçoeiro, não conseguia ver. Abria-se pouco e pouco ou nada dava de si mesmo.
Finalmente acreditou que tudo, por mais difícil que fosse de alcançar, era possível. A maior batalha da sua vida estava a começar. A vitória: o seu maior desejo. Imaginava-se feliz e ao lado da pessoa que escolhera, a pessoa da qual já conhecia o rosto e os defeitos.
( © PVF, da série "Contos Ingleses", 2016)
[da fotografia, nasceu o texto. obrigada por teres aceite o desafio.]
fevereiro 18, 2016
fevereiro 09, 2016
Ryan
A peculiaridade do problema era
óbvia. A originalidade não necessariamente um factor de regozijo.
O dia amanheceu escuro, engolido por
um Inverno déspota e teimosamente a querer dar nas vistas. Ryan, que até
gostava do toque da chuva, não pensava sequer nisso agora, embrenhado noutro
tipo de pensamentos. Lá fora a água escorria em catadupa rua abaixo, capaz de
inundar os tornozelos das senhoras calçadas com sapatos de salto alto. Sentado
no sofá, envergando um copo com vinho tinto na mão, bebericava um líquido que
considerava amartelado, de fraca qualidade e algo que apenas tolerava consumir
quando se encontrava sozinho. O que era o caso.
Estava preso a um estilo de vida do
qual começava a envergonhar-se. Acusava já a frustração de não conseguir
resistir aos impulsos. E pior, começava a sentir-se viciado. Noite após noite,
bêbado, deitava-se em lençóis maculados de odor a roçar o insuportável. Fumava
na cama até altas horas da madrugada, de olhar fixo nas sombras que dançavam no
tecto escurecido.
Uma noite, adormeceu de cigarro na
mão e só por sorte que conseguiu acordar a tempo, segundos antes de se deixar
imolar por um fogo que já controlava grande parte do lençol. O susto foi de tal
ordem que caiu cama abaixo num barulho seco e potente a fazer lembrar o troar
de um relâmpago. Nenhuma sequela física.
Dez horas da manhã e a garrafa já
seguia a mais de meio. Uma coerência invulgar com a precisão de um relógio
suíço. Uma velocidade de evaporação exponencial a cada novo copo. Ryan o
bebedolas, pensava para si mesmo. Ryan o esponja. Ryan o Zé Ninguém.
Arrotou com estrondo para soltar uma
bolha de gás acumulada nas costelas e que lhe estava a causar um forte
desconforto. Talvez a sorte mudasse em segundos. Esperou, mas, desesperou.
Bebeu mais um copo. De uma assentada só, sem respirar. Culpou-se por não ter
comprado tabaco na noite anterior.
Envolto no cheiro agridoce do último
cigarro pronunciou em surdina as palavras que gostaria de voltar a ouvir… amo-te.
( © PCV, da série "Contos Ingleses", 2012)
[do texto nasceu a fotografia. obrigada pelo desafio.]
fevereiro 03, 2016
janeiro 25, 2016
janeiro 22, 2016
janeiro 13, 2016
janeiro 11, 2016
janeiro 07, 2016
janeiro 01, 2016
urgência
"eu sei, pode parecer estranha a ugência de te ver. mas é que tenho algo para te dizer há já tanto tempo que não podia esperar mais.
sem grandes certezas, bom... sei hoje que já é assim há algum tempo. entre desencontros e outros caminhos percorridos, neste tempo nem tu nem eu... espera deixa-me falar. de ti não sei na verdade, mas eu estou disponível para te abraçar. hoje e todos os dias. sem ter que o esconder. e sem ter mais que ser segredo. nem um sonho. é talvez a aposta de uma vida. a mais séria que já fiz.
e é por isso que tinha mesmo que te ver. porque era isto que tinha para te dizer....
de ti não sei, mas eu é para sempre que quero ficar."
no dia em que a urgência do alvoroço que me toma se precipitar ao receio, é isto que te quero dizer.
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