setembro 07, 2014

[vai e volta]



"Não tentes esperar por mim porque de mim nada vem. Acredita só na noite, nesta grande e negra noite que de tal modo castiga, que de tal modo transtorna; acredita só na lua que essa sim, desde poemas a uivos tudo vai aguentando, sempre ao alto, esbranquiçada, muito pálida, como deve ser um rosto acautelado. Já de mim não esperes nada, mesmo nada. Só paixões arreliadas, perdidas e desgastadas. Olha bem para essa noite tão preta e tão requintada, nem mentira nem v...erdade! Uma noite que te espreita na cidade que já dorme. Não olhes mais para mim! Não me olhes nem de esguelha. Nada tenho para te dar. Nem passado nem presente nem futuro, nada, nada. Sou só eu por detrás de uma janela, por detrás de uma fachada, um sombreado qualquer sob a luz dum candeeiro. Nunca acredites em mim, é uma coisa que te peço. Quando um dia descobrires que faço parte da noite, que vivo depois da lua, que sou eu que a ilumino e só nela e nela penso; se conseguires alcançar-me dando um verdadeiro salto, se essa altura chegar, se tal momento surgir, então sim, derrubadas as ameias e perdidas as conquistas, poderás olhar para mim, perguntar-me qualquer coisa e esperar pela resposta. E depois, isso é contigo: ou me acolhes ou desprezas. Tu saberás decidir."
(Cristina Carvalho)



 

Sem comentários:

Enviar um comentário