janeiro 29, 2011

viagem




Ontem conheci-a de perto. Senti-lhe o cheiro forte, tomei-lhe o corpo lânguido nos meus braços, li-lhe a serenidade nos olhos, senti o toque das suas mãos quentes.
Ontem, surpreendi-me apenas por não a esperar.
Ontem, senti o quão somos impotentes e insignificantes perante o seu querer.
Ontem, sorri-lhe e quase cedi a entregar-lhe o que me pedia, resignadamente…
Ontem, a morte “bateu-me“ à porta. E eu, que antes nunca soubera o seu nome, tranquilamente, sem lutar, pedi-lhe apenas que voltasse depois. Depois…
Sei que não a venci. Sei que voltará. Sei que um dia virá cobrar.
Mas quando esse dia chegar, mais forte, conseguirei confiar-lhe “essa grande parte de mim”, certa de que algures os nossos caminhos voltarão a cruzar-se numa eterna viagem.

janeiro 26, 2011

...




ou mais tarde. ou apenas amanhã ou depois. ou noutra altura qualquer.
não sei quando, mas volto.
agora, volto a mim do mesmo modo como sempre fazem os que procuram abrigo em si.
fecho a porta e as janelas e fico aqui perdida em mim, até que de novo o calor e a luz lá fora me façam querer voltar.
voltarei sim… mas não já. nem sei quando, mas volto!

janeiro 25, 2011

[os dias]




"Para que são os dias?
É nos dias que vivemos.
Chegam, acordam-nos,
Vezes e mais vezes.
São para sermos felizes neles:
Onde havemos de viver senão nos dias?
(...)"

(Philip Larkin, "Os dias")

janeiro 17, 2011

se...




... um dia me perder, procurem-me numa estação de comboios.

janeiro 16, 2011

janeiro 14, 2011

apenas




esbatem-se como sombras as memórias do tempo gravadas em nós... e assim, apenas recordamos o que nunca aconteceu.

janeiro 12, 2011

[alvorecer]




"(...) sobre a cidade muda, o horizonte (...) numa intensa alegria de viver (...)"

dedicada à MSC.
porque a força da alvorada combina com a sua!

janeiro 11, 2011

janeiro 07, 2011

fico.




Toco-te, esfumas-te. Sonhei que voavas para mim.
Prometo agora uma vez mais, de olhos abertos, não os voltar a fechar. Em sono nenhum inventar-te. E, se me cruzar contigo, não terei memórias de quem és!
Penas pousam sobre mim, ainda agora.
Serás um pássaro, talvez. E eu, um inverno do qual te ausentarás em procura de novas primaveras.
O primeiro nevão levou de mim o canto que me fez olhar-te e me emudeceu.
Outros virão e no degelo, serei água na ânsia da sua sede.
Fico. Assim.

(Mariamar, in "Quisera dizer-te...")

janeiro 03, 2011

profano(-te)




... poderoso para além da imaginação. que atrai e repulsa, que fascina e aterroriza.
força que tanto vence e ajuda a vencer, como fracassa e faz fracassar. poder que não se pode definir. que está em todo o lado mas que não se pode localizar em lado nenhum. sem pecado..., o (encanto pelo) desconhecido!

janeiro 02, 2011

à parte isso...




"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo (...)"

(Alvaro de Campos)